Texto por Abonico R. Smith
Maçonaria, Illuminati, Rosacruz, Sociedade Teosófica…. As sociedades secretas são antigas na História e atravessam os séculos cheias de mistérios. Apenas os iniciados têm acesso a rituais, códigos e conhecimentos que não devem ser compartilhados fora desses grupos. Entretanto, em Curitiba, existe uma nova Secret Society que está pronta para ser descoberta por todo o país e pelo resto do mundo. Seus integrantes são apenas três e estão junto há dois anos. Os primeiros dois anos de um propósito que tem tudo para ser longevo.
Guto Diaz (baixo e voz), Fabiano Cavassin (guitarra) e Orlando Custódio (bateria), na verdade, já se conhecem de longa data. Tocaram juntos em uma outra banda da cidade nos anos 2000, o Primal… (com reticências mesmo e, por isso mesmo, mantiveram a química com o novo projeto, que inaugura as ações de um novo selo/produtora da capital paranaense, a Red Records, lançando de uma vez só três singles, disponíveis nas redes sociais e nas plataformas de streaming.
Nas três canções disponibilizadas simultaneamente, a Secret Society segue a trilha da união do vigor do hard rock com o pós-punk soturno, menos dançante e percussivo, especialmente de formações da enevoada Inglaterra e da ensolarada costa oeste americana da primeira metade dos anos 1980 e o hard rock. Killing Joke, Danzig, Sisters Of Mercy, Cult, Bauhaus, Cure, Gun Club e Christian Death são algumas inspirações assumidas da banda.
A canção que inaugura os trabalhos promocionais chama-se “The Architecture Of Melancholy” e reforça o lado sombrio e soturno do trio, tanto nas letras quanto nas composições, passando pelos figurinos de palco e imagens do videoclipe. Os versos compostos por Guto Diaz – figurinha carimbada na cena underground curitibana – foram inspirados pelo arquiteto italiano Aldo Rossi, autor do projeto do cemitério de Modena. Com versos que aludem ao texto final do filme Blade Runner – O Caçador de Androides (“All those moments will be lost in time/ Like dust in the Wind”) e o rock industrial alemão do Einstürzende Neubauten (“Collapsing new buildings/ Houses made of lies”), Guto trata basicamente da morte, traçando um paralelo entre o cemitério dos mortos (lápides, túmulos, jazigos) e os edifícios dos vivos (onde as pessoas passam boa parte do tempo isoladas e solitárias). No clipe feito para a faixa, o diretor Raphael Moraes traça a linha tênue entre esses dois lados, com a atriz Viviane Maria personificando a melancolia e passeando livremente pelos territórios.
A segunda música é “Deciduous (Le Feuilles Mortes)”. A temática principal é a passagem do tempo, que também marca forte presença nestes versos. Aqui Guto realiza uma metáfora da passagem das estações do ano, ao falar sobre a sucessão dos outonos e compará-la com a finita existência da humanidade. São as folhas que caem, a beleza que se esvai, a carne que apodrece, a morte. Em um dos mais bonitos trechos da letra, Diaz cita o prefácio do livro Memórias Póstumas de Braz Cubas, escrito por Machado de Assis: “To the first worm/ Which gnawed the cold flesh of my corpse/ I dedicate, as a token of loving memory/ These posthumous memoirs”.
Por fim, completa o trio de lançamentos da Secret Society o single “Field Of Glass”. Nesta canção, Guto fala sobre o “rastejar sobre campos de vidro” como sendo um momento de grande dificuldade, incertezas e mudanças que alguém esteja passando. Depois da vinda da chuva – e posteriormente do sol e do arco-íris – chegam o alívio, a limpeza e a libertação.